Carta a quem sou quando não palavra

o céu bonito e claro. escorre. aos poucos. os olhos.
da janela se vê. o interno-outro: nebulosidade e mistério.
desconhecidos. rios a se formar por sobre o chão.

onde não piso.
é maio e não tenho medo. do futuro.
uma paz desconhecida a irromper da carne.
pega minhas mãos e acalma. sua angustia
como se um corpo a dividir. sem pressa,
nossa canção eclode das águas e flui – em meu avesso.

por entre pedras e lama. a confirmação de nossos dias
entrega. porque você nunca me economiza. exiges,
inclusive, as entranhas do sentimento ainda não acontecido.

n
ascendo de dentro de mim sem explicação. há todo um
gesto e jeito próprio de ser.

e não sei se transbordo ou seco. ser líquido ou represa
não sei se líquido ou represa. meu lugar nesse estancar
entre moradas e esquecimentos. me diz (?) porque
eu simplesmente me entrego.

(imagem da série 'Aqueous', do fotógrafo britânico Mark Mawson)

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