Devaneio

É um espaço vazio. O que fazer quando o espaço vazio reside dentro de nós, sendo impossível apagá-lo, transferi-lo ou ignorá-lo? Dar voltas ao redor de si mesmo para constatar o peso da leveza. O vazio pesa, de tão leve que. É. E não é cheia, é falta o que preenche o vazio. Cheia, talvez, de inúmeras outras coisas. Mas tanto também falta, tanto também cabe – ou será que não?

Clément Rosset diz que o homem tem uma enorme capacidade de sentir, mas uma mínima capacidade de suportar o que sente. Quem sabe seja isso, quem sabe a falta se chame felicidade. O que pode ser a felicidade que não espaços absolutos em meio à infinidade de constâncias cotidianamente inexpressivas? Espaços absolutos de alegria, de bons encontros, diria Spinoza, de pura revelação, insight, epifania.

Mas o que sei eu sobre tudo isso, sobre felicidade, encontros, Spinoza ou Clément Rosset? Eu que sou apenas mais um tentando sobreviver, ou melhor, tentando desvendar a capacidade humana de ir além da sobrevivência e viver. O que sei? a não ser que tudo isso custa caro, custa muito cara a guerra contra o (des)conhecido inominável?

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